New

Musicalização Infantil (I)


Josiane Kevorkian é pianista, integra o Duo de Pianos Bretas Kevorkian, diretora cultural da Casa das Artes Paquetá e coordenadora artística do Instituto Zeca Pagodinho (em Xerém), trabalha entusiasticamente pelo desenvolvimento artístico e cultural de crianças e jovens, alunos das escolas municipais e estaduais de ensino. 

Ritmo


Melodia


Harmonia

Share this post

Educação musical infantil no Brasil


Em 12/12/2014 - Aproveitando o Dia das Crianças, o Harmonia aborda a educação musical no Brasil. Para isso, o programa entrevistou o educador, musicólogo e compositor Carlos Kater, que lançou em Belo Horizonte o livro "Musicantes e o Boi Brasileiro, uma história com [a] música". A obra apresenta de forma lúdica e pedagógica a cultura do país.


Além disso, a equipe do Harmonia conversou com a regente norte-americana Sylvia Munsen, bem como acompanhou uma apresentação de quatro corais com aproximadamente 150 crianças e adolescentes, a fim de observar como é o trabalho de regência de vozes em formação.



Share this post

DOC Brasil Choro


O Doc Brasil leva o telespectador a uma viagem pelo mundo do Choro, um dos mais representativos gêneros da música brasileira.
Dirigida por Amaro Filho, a série é composta por três documentários gravados em vários estados brasileiros, cujo conteúdo retrata a tradição do choro e sua recente revitalização.

Os episódios contam como o chorinho se desenvolveu no Brasil e como surgiram as primeiras gravações em disco; mostram a complexidade da estrutura musical e a confecção dos instrumentos; resgatam personagens ilustres como Pixinguinha e Jacob do Bandolim; e trazem artistas menos conhecidos, mas responsáveis pela difusão do gênero em vários cantos do país.

Este programa foi exibido em 2007 pela TV Cultura.

Parte 1


Parte 2


Parte 3

Share this post

O Choro (I)


Faremos um breve exame do nascimento do gênero, como se comportava nessa época inicial, ressaltando ainda alguns importantes nomes ligados à sua criação e consolidação.

O nascimento do choro

Os estudiosos que escrevem e refletem sobre o tema e os articulistas de textos para jornais e revistas, se referem ao choro indistintamente, às vezes como estilo, outras como gênero. Gostaríamos primeiramente de discutir essa questão: O choro é um gênero ou estilo

Em nossas pesquisas, vimos que o choro, quando do seu surgimento em meados de 1870, era considerado como um estilo musical, um jeito de tocar, até concretização como gênero no começo do século XX. Podemos dizer que foi, durante as primeiras décadas daquele século, que o choro se estabeleceu propriamente como gênero, delimitando suas características próprias de melodias, harmonias e ritmos, definindo os típicos agrupamentos de instrumentos respectivas funções.




O nascimento do choro, identificado a um jeito de se interpretar, foi destacado na principal obra de referência sobre a história do choro, a de Alexandre Gonçalves Pinto (1978). Sobre o músico Ricardo Almeida, ele escreve: "..Toca muitos choros americanos, e também nossos com grande facilidade". Ele afirma a ideia de que vários gêneros musicais podem estar incorporados ao choro. Neste caso, observamos o choro como forma de execução, indicando que até mesmo a musica norte-americana poderia ser interpretada como tal. 

O livro, de Alexandre Gonçalves Pinto, apelidado de Animal, retratou o perfil de cerca de trezentos chorões antigos, do Segundo Império e Primeira República. O autor retratou o momento em que  o choro ainda era um estilo de tocar as músicas européias como valsa, mazurca, quadrilha, schottisch, polca e as músicas nacionais como tango brasileiro, maxixe, modinha e lundu. Alguns dos grandes músicos dessa época foram o flautista Patápio Silva, os violonistas João Pernambuco e Sátiro Bilhar, para só citar alguns.

Os temas tocados pelos músicos de choro daquela época eram, em sua maioria, importados da Europa, como polcas, schottisches, valsas, serenatas. Mário de Andrade (1987) escreve: "Choros e serestas são nomes genéricos aplicados a tudo quanto é música noturna de caráter popular, especialmente quando realizada ao relento". E ainda ao tipo de instrumentação: " O choro implica na geral participação de pequena orquestra com um instrumento mais ou menos solista, predominando sobre o conjunto".




O sentido musical do termo Choro, segundo Alexandre Branco Weffort (2002) passará por um processo de metamorfose: de evento social a prática musical, de prática a repertório instrumental, de repertório a estilo interpretativo, de estilo a gênero. Gênero considerado em sentido lato, de múltiplas formas musicais, executadas por diversos grupos instrumentais. Este caminho percorrido pelo choro é fundamental para entendermos seu nascimento.

Um dos elementos que nos leva a identificar um gênero, é a instrumentação característica dos seus grupos. No caso do choro, ele passou de um conjunto composto por flauta, violão e cavaquinho, para agrupamentos mistos onde se incorporaram tanto o piano como instrumentos trazidos das bandas, por exemplo o clarinete, o trombone e o trompete. O violão de sete cordas, que assumiu a função dos baixos, foi adicionado um pouco mais tarde, e se tornou essencial na definição do timbre do grupo. os instrumentos de percussão também se uniram ao grupo, principalmente o pandeiro, que atualmente é o mais utilizado.



Grupo de choro do início do século XX. VASCONCELOS, Ary. Panorama da Música Popular Brasileira na Belle Époque. Rio de Janeiro: Liv Sant’Anna, 1977

Outro componente que distingue o choro, ainda relacionado ao seu aspecto timbrístico, são as funções que os instrumentos assumiram com o tempo, revelando uma textura polifônica particular. O que antes era simplesmente uma melodia acompanhada se transformou em algo mais complexo, os instrumentos começaram a ter funções claramente definidas, e este é um ponto especial na identificação do gênero. Isenhour e Garcia (2005) assim descrevem estes papéis: ".. Os instrumentos devem preencher quatro requisitos básicos, com diferentes níveis de especialização - a melodia, o "centro", o baixo, e o ritmo. [...] cada tipo de instrumento normalmente é associado a uma função, mas sempre existem flexibilidade e espontaneidade nas execuções, e alguns instrumentos podem assumir a função de outro durante uma parte".


O surgimento do termo "choro" é um tema muito estudado nas pesquisas sobre música popular, por isso, iremos abaixo, apresentá-lo de maneira sucinta. Vários estudiosos da música brasileira escreveram sobre a origem do choro, entretanto, entre os pesquisadores, não há consenso quanto à sua origem e significado. Choro pode ter se originado, segundo J. R. Tinhorão (1974), da maneira melancólica, chorosa de se tocar as músicas estrangeiras no final do século XIX; ou de "xolo", um tipo de baile que reunia os escravos das fazendas, que depois passou a ser conhecida como "xoro", e finalmente, a expressão começou a ser grafada com "ch". Temos também a definição de Ary Vasconcelos (1984), que atribui a origem da palavra a uma possível abreviação de "choromeleiros", uma corporação de músicos com importante atuação no período colonial brasileiro. Para João B. Siqueira (1970), a palavra choro poderia ter sido originada da palavra chorus em latim, que significa coro ou conjunto vocal. Segundo o folclorista, Luís da Câmara Cascudo (1872), lemos:

 "..Choro é a denominação de certos bailaricos populares, também conhecidos como assustados ou arrasta-pés. Essa parece ter sido a origem da palavra como explica Jaques Raimundo, que diz ser originária da contracosta, havendo entre os cafres uma festança, especie de concerto vocal com danças, chamado xolo. Os nossos negros faziam em certos dias, como em São João, ou por ocasião de festas nas fazendas, os seus bailes, que chamavam de xolo, expressão que, por confusão com a parônima portuguesa, passou a dizer-se de xoro, e, chegando à cidade foi grafada choro."

Pelo que vimos acima, entendemos que o choro possui todas as características que definem um gênero. Apesar desse tema ser polêmico, e possuir muitas correntes de opinião, iremos considerá-lo como tal.




Todo estudo que tenha como tema o choro do começo do século XX, sem dúvida, fará referencia ao livro de memórias de Alexandre Gonçalves Pinto. O autor traça um perfil dos músicos da época (de 1870 até a data da escrita do texto), e de como seria o modelo do chorão. Com uma tiragem inicial de 10.000 exemplares, registra histórias de 285 nomes de personagens relacionados ao choro da época.

Em sua tese, em que estuda a autenticidade no samba e no choro, Dmitri C. Fernandes (2010) descreve o autor da seguinte maneira: "[...] um agente que se preocupou com o registro de um universo musical do século XIX no qual ele próprio teria tomado parte. Não era jornalista, não tinha acesso às estações de rádio nem o domínio da escrita, mas lhe sobrava vontade de registrar os 'fatos e perssonagens de outrora' em historietas das quais muitas vezes se tornava o protagonista."

Ainda completa que apesar de Pinto não ser jornalista, mas homem humilde, de pouca instrução, carteiro dos Correios e Telégrafos, músico diletante, e sem grandes possibilidades de comunicação por meio dos veículos da imprensa, sua obra foi considerada a de maior repercussão da época, Isto porque foi bem recebida pelos intelectuais ligados ao samba, como Lúcio Rangel e também nomes ligados à Revista da Música Brasileira. O livro era consultado constantemente e considerado documento histórico único, pois tratava de nomes 'esquecidos da memória cultural carioca-nacional'. O choro, na verdade, ainda não era considerado um gênero, e esta obra contribuiu para esta construção, consolidando normas e modelos. O autor descreve o que seria o choro "verdadeiro": criações executadas por flauta, violões, cavaquinhos, oficleide e trombone, que deveriam tomar lugar nas festas 'descompromissadas'".

Observamos que daí em diante, os caminhos do samba e do choro começam a tomar rumos diferentes. Enquanto o samba é aiçado à categoria de "verdadeira" música nacional, o choro passa a trilhar seu caminho, longe das estruturas comerciais das quais o samba se beneficiou.

Os chorões estavam fadados à ingrata posição de simbolicamente dominantes, pois verdadeiros sabedores da arte instituída, e economicamente dominados, dado que suas composições próprias, de modo geral, se circunscreveriam ao deleite de um público de entendidos e iniciados. Incrustava-se neste mito, em contrapartida, uma asserção inquestionável: a de que o local em questão reuniria os pais fundadores de ambos os gêneros, embora postados nas posições que lhes eram de direito, segundo o chorão-mor. (Dmitri C. Fernandes).


Devemos nos lembrar da interessante ideia que Pixinguinha expôs a respeito das diferenças entre o choro e o samba quando disse que o choro ficava na sala de estar e o samba no quintal. Significando com essas palavras que a sala de estar representava uma aceitação pela sociedade, pois tocavam instrumentos harmoniosos, melodiosos, enquanto no quintal, ficavam em sua maioria pessoas que, muitas vezes, não tinham conhecimentos musicais, culturais e vinham de uma  camada social baixa. Apesar desta "valorização" do choro, o que aconteceu em realidade foi uma inversão, quando vimos o samba ser especialmente valorizado e escolhido como gênero nacional. O público interessado no choro passou a ser menor ao do samba, e por ser um gênero de música instrumental, não se prestava à propaganda política. A nascente indústria fonográfica tem papel essencial nessa questão, pois, por meio dela, o samba antes relegado ao quintal, é transferido a uma posição mais alta que o choro, e este, apesar de ser considerado símbolo de um gênero culto,  de conviver com ambientes sociais aceitos, se afasta dessa centralidade.

Estas reflexões acerca do choro e do samba, dos símbolos que representam, e de suas contradições intrínsecas, são importantes pois nos ajudarão a formar uma ideia das possibilidades, tensões e resistências que ocorreram com o gênero choro em sua trajetória.



Fonte: Valente, Paula Veneziano
Transformações do choro no século XXI

Share this post