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O Maxixe ( I )




A chegada do Maxixe


Submetidas desde a chegada a um processo de nacionalização, as danças importadas seriam fundidas por nossos músicos populares a formas narrativas de origem africana, conhecidas pelo nome genérico de batuque. Foi assim que, na década de 1870, nasceram o tango brasileiro, o maxixe e o choro, ao mesmo tempo em que se abrasileirava a técnica de violão, cavaquinho e o próprio piano.
O mais antigo tango brasileiro chama-se "Olhos matadores" do compositor, regente, trompetista e organista carioca Henrique Alves de Mesquita (1830-1906). Retornando de Paris ao Brasil em 1866, lutou para reafirmar o seu prestígio em nosso meio, criando o tango brasileiro (mistura de habanera e do tango espanhol com elementos de polca e do lundu). Mesquita era muito estimado pelos colegas, principalmente por Ernesto Nazareth. Os dois compositores teriam para sempre seus nomes ligados ao tango brasileiro. Mas Ernesto deu-lhe uma formulação rítmica bem brasileira, mais próxima do batuque e do lundu. (próximos da habanera e do tango espanhol).

A historiografia registra o lançamento do primeiro tango brasileiro como “Olhos Matadores”, de Henrique Alves de Mesquita, em 1871. Porém, o violonista Maurício Carrilho, tendo pesquisado e transcrito cerca de dez mil partituras de choros antigos, revelou para nós em entrevista filmada que não encontrou registro deste tango. Classificou então “Ali-Babá” do mesmo autor como o tango brasileiro. Além da polca e do lundu, há aqui neste gênero musical a influência da habanera cubana.







Participaram das gravações do disco: Odete Ernest Dias (flauta), Reco (bandolim), Luiz Gonzaga Carneiro (clarineta), Beth Ernest Dias (flauta), Alencar (violão de 7 cordas), Jonas (cavaquinho), Jaime e valério (violão de 6 cordas) e Jorginho (pandeiro).


Descendo ainda do tronco habanera-tango espanhol, adaptado à "sincopação" afro-brasileiro e com o surgimento do tango argentino em 1870 (pouco depois do tango brasileiro), o maxixe entrou para a história como a primeira dança urbana brasileira.




Bem mais importante como dança do que como música, o maxixe começou a ser dançado ao ritmo de outros gêneros como a polca, o tango e principalmente a polca-lundu, o tango-lundu e o tango-batuque. Estava sendo aprontada pelos músicos populares que, para provocarem os passos lúbricos dos dançarinos, submetiam tangos, polcas e habaneras a uma intensa sincopação, que acabou por transformá-las em maxixe, gênero musical.


Muitos compositores da época ignoravam o termo MAXIXE, proveniente de uma gíria que significava ordinário, chimfrim, desprezível, preferindo chamar os seus maxixes de polcas-lundu, tangos-lundu ou simplesmente tangos.

Em 1883, no dia 17 de abril, o maxixe chegaria ao palco pela primeira vez, ao ser cantado e dançado no Teatro Santana pelo ator Vasques, numa cena cômica intitulada "O caradura". Então, a seguir e por cerca de quarenta anos, essa dança passou a fazer parte de tudo quanto era peça musical do teatro carioca, servindo mesmo de chamariz para o público.




Sem jamais ter sido aceito pela classe média, o maxixe desapareceu praticamente na década de 1930, Os motivos foram a chegada de novos ritmos americanos e o crescimento do samba. Depois de uma presença de quase meio século na vida musical do país, o maxixe canção não deixou um grande legado. Embora muitos tenham composto maxixes, não há a rigor especialistas a se destacaram no setor. As exceções que poderiam ser Chiquinha Gonzaga e Sinhô, tiveram a maioria de seus maxixes disfarçados em outros ritmos: em tangos, os de Chiquinha e em samba, os de Sinhô.


De qualquer maneira, incluindo-se algumas composições classificadas em outros gêneros, pode-se formar uma seleção de ótimos maxixes:


Corta-jaca (Chiquinha), Amapá (Chiquinha), Maxixe aristocrático (José Nunes), São Paulo futuro (Marcelo Tupinambá e Danton Vampré), Cigana do Catumbi (J. Rezende), Café com leite (Freire Júnior), Jura (Sinhô), Dorinha meu amor (José F. Freitas) e Gosto (Sinhô).


Música popular e o teatro da revista no século XIX


Na segunda metade do século XIX o teatro de revista da Praça Tiradentes, com suas cinco famosas casas, já atraiam todo um público flutuante de provincianos fascinados pelas novidades do Rio de Janeiro. A partir da primeira década do novo século os compositores populares procuravam incluir suas músicas em números de revistas, como primeiro passo para torná-las nacionalmente conhecidas. Os revistógrafos começaram a perceber também a oportunidade de aproveitar o agrado popular de determinadas músicas lançadas em disco. Resultando nas relações entre música popular e o teatro da revista. Essa estreita ligação deu origem a duas importantes consequênicas:

1 - conferiu uma característica brasileira ao gênero (o matuto, o coronel fazendeiro, o português, a mulata, o guarda, o capadócio, o funcionário público, o camelô, etc.)

2 - e fez essa pequena humanidade dançar e cantar durante meio século ao som das criações musicais e coreográficas das camadas do povo: o lundu, o maxixe e o samba.

Principais Compositores



Chiquinha Gonzaga Rio de Janeiro 17 de Outubro de 1847-28 de Fevereiro de 1935. Foi uma compositora profícua, escreveu muito, e por esta razão, muitos de seus trabalhos ainda não foram pormenorizadamente estudados e analisados. Assim, procurou-se delimitar estas duas correntes fundamentais da pesquisa: o estudo histórico-musicológico em torno da figura de Chiquinha Gonzaga e o estudo musical do gênero maxixe.

Sabia dar o exato valor ao ritmo e à melodia de suas composições, e assim traduzir verdadeiramente os anseios, os desejos do carioca. Era uma pessoa que se identificava com esta cultura, por fazer parte dela, sabendo transmitir através de sua obra toda esta manifestação; e foi através do maxixe que conseguiu esta identificação.
O primeiro compositor a esterilizar o maxixe foi o pianista Ernesto Nazareth, que se apresentava junto com Chiquinha Gonzaga. Ernesto era filho de uma família de classe baixa que morava no bairro da cidade e sua primeira obra foi a polca-lundu " Você bem sabe". Ernesto Nazareth nasceu em 20 de janeiro de 1863-1º de fevereiro de 1934.





Por volta do ano de 1915, Pixinguinha formou seu próprio conjunto, que foi denominado Grupo do Pixinguinha e que mais tarde se tornaria o prestigiado Conjunto Os Oito Batutas. Em 28 de janeiro de 1922, Os Oito Batutas embarcaram para Paris, custeados por Arnaldo Guinle, por sugestão do dançarino Duque, divulgador do maxixe no exterior. Embarcaram apenas sete batutas, razão pela qual foram anunciados como Os batutas, ou melhor, Les batutas. Eram eles: Pixinguinha, Donga, China, Nelson Alves, José Alves de Lima, José Monteiro, voz e ritmo, e Sizenando Santos, o Feniano, no pandeiro. Os dois últimos, faziam substituição a Raul e Jacó Palmieri. J. Thomaz, que não embarcou por motivo de doença, não teve substituto. Estrearam em meados de fevereiro no Dancing Sherazade. A temporada prevista para apenas um mês, prolongou-se até o final do mês de julho.




Grandes compositores de maxixe, como Ernesto Nazaré e Marcelo Tupinambá (tietê, 29 de maio de 1889- São Paulo, 4 de Julho de 1953), continuaram no século XX, no entanto, a chamarem suas composições de "tangos" ou "tanguinhos", talvez por temerem o preconceito.


Característica do Maxixe


Os registros históricos mostram que o Maxixe teve sua origem no Rio de Janeiro na década de 1870, mais ou menos quando o tango, (gênero musical de origem europeia e tocada nos salões da corte imperial e da alta classe média carioca, sempre ao piano), também dava os seus primeiros passos na Argentina e no Uruguai. Inicialmente como uma Dança e depois como um estilo musical a um ritmo 2/4 em alegreto substituindo o 3/4 típico das valsas. Notava-se também influências do Lundu, das polcas e das habaneras.
Hoje, o gênero musical chamado maxixe ou tango brasileiro é considerado um subgênero do choro. Porém, no fim do século XIX e começo do XX, a palavra "choro" designava não um gênero, mas certos conjuntos musicais (compostos de flauta, cavaquinho e violões) que animavam festas tocando polcas, lundus, habaneras e mazurcas e outros gêneros estrangeiros de uma maneira sincopada. O maxixe seria a primeira dança genuinamente nacional e que teria nascido a partir da fusão do tango e da habaneira com a rítmica da polca.
Na sua forma de música de dança passou a ser chamado de maxixe, que era alvo de fortes preconceitos das elites da época, porque o consideravam indecente, chegando mesmo a proibi-lo. Dava-se o nome de "Tango Brasileiro" para se esconder a relação com o maxixe dessas composições.
Na atualidade, o maxixe, enquanto dança, ainda existe nos passos do samba de gafieira, cuja música (que é um tipo de samba extremamente sincopado, por exemplo, o samba de breque e o samba-choro) também preserva muitas estruturas rítmicas do maxixe.



" Jura " composição de Sinhô gravada inicialmente em 1928 na odeom por Mário Reis, realmente apresentou uns dos maiores sucesso do autor, ao lado de "pé de anjo e gosto que me enrosco".


Uma lambada no decoro


 


O maxixe conquista teatros e salões de baile e se firma como a dança da moda


Pernas entrelaçadas e umbigos que saracoteavam em Lambadas recíprocas davam o tom da mais nova febre que assolava as sociedades carnavalescas e teatros da cidade: o maxixe. O balanço irresistível do maxixe, de tão variado, não podia ser classificado como um ritmo musical. O que caracteriza o maxixe era uma coreografia muito peculiar, provocante a ponto de roçar os limites do decoro, que vinha despertando celeuma na mesma medida em que a dança se firmava como o prato predileto nos salões de baile populares do Rio de Janeiro. Para se dançar maxixe, era necessário ter os pés praticamente plantados no chão - mexia-se pouco com eles - e responder aos apelos sincopados da música com acentuados requebros de cintura. Dançava-se maxixe com os corpos colados, e alguns cavalheiros tomavam a liberdade de pousar as mãos abaixo da cintura de suas parceiras durante os volteios. Com esses movimentos ousados, cabe perguntar se o ritmo da moda era uma dança saborosa e inovadora ou apenas uma indecência ao som de música sincopada.
A rainha do maxixe no Rio de Janeiro, a maestrina e compositora Francisca Edwiges Gonzaga, de 42 anos, conhecida como "Chiquinha Gonzaga", sabia muito bem o que significa o escândalo em torno do novo ritmo. Renomada professora de música e compositora no Rio de Janeiro, ela colocava no frontispício das partituras de seus maxixes a denominação "tango brasileiro". "Se eu colocar nas músicas o termo maxixe, elas não entram nas casas de família que têm piano", queixava-se a compositora. Foi ela também a responsável pela introdução do maxixe nos palcos dos teatros, a bordo da revista musical A Corte na Roça, de 1885 - primeira opereta com música escrita por uma mulher a ser encenada nos palcos brasileiros. O teatro que exibia a peça sofreu ameaça de interdição por parte da polícia, que queria cortar a cena final aquela em que um casal de capiaus aparecia maxixando com todos os requebros e trejeitos, num alucinante vai-e-vem de umbigos. "Na roça não se dança de maneira tão indecente", observou um crítico na época.
A polícia implicou com A Corte na Roça, na verdade, por motivos políticos. Chiquinha Gonzaga, que gosta de se ocupar de assuntos masculinos como a política, foi abolicionista e era republicana ferrenha. Na peça, ela incluiu os seguintes versos, cantados na voz de um caipira:

Já não há nenhum escravo
Na fazenda do sinhô
Todos são abolicionistas
Até mesmo o imperador

A polícia exigiu que se trocasse a palavra "imperador" por "doutor". Hoje, se Chiquinha decidisse remontar a peça, não teria quaisquer problemas com a polícia. E o sucesso estaria garantido - nos últimos tempos, as peças de maior público eram aquelas que incluem, entre suas atrações, números de maxixe.
Mesmo com toda a oposição dos defensores da moral, as sociedades carnavalescas nas quais se praticava o maxixe vinham sendo frequentadas, com cada vez mais intensidade, por rapazes da alta sociedade; e as partituras do ritmo, escondidas sob o pseudônimo de tangos brasileiros, penetravam furtivamente dentro dos lares, onde moças de família as executavam ao piano. Mistura da melodia expressiva do chorinho com a métrica sincopada e pulsante do lundu, o maxixe, ao lado das modinhas imperiais tinha tudo para se firmar como a moda musical do momento. A exemplo da modinha, a princípio considerada chula e lasciva, e que depois começou a ganhar aceitação nos círculos mais nobres da sociedade, o maxixe deu uma lambada em seus opositores e fez da polêmica que despertava mais um atrativo. A proibição redobrava o prazer de remexer a cintura e trocar confidências diretamente de umbigo a umbigo.

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