Dedicado ao trabalho da escrita musical de dois compositores brasileiros, a Escola de Música da UFRJ realiza, no dia 19 de abril, um evento que abarca três atividades culturais: o lançamento de um livro, uma palestra-concerto e um concerto musical com 10 violonistas, um organista e um declamador.
Os compositores são Heitor Villa-Lobos e Marcos Alan José dos Reis. Este último, sobre quem Turíbio dos Santos afirmou ser "um fenômeno total, como intérprete e compositor, com uma maturidade que só os grandes desígnios misteriosos da vida explicam", faleceu aos 17 anos de idade, em razão de uma hemorragia encefálica, quinze dias depois de ter recebido o diagnóstico de um câncer.
Organizado pelos violonistas Graça Alan, e Bartolomeu Wiese, ambos professores da Escola de Música, o evento tem início, às 13h, na Sala da Congregação, com uma Palestra-Concerto proferida por Teresinha Prada que, na qualidade de doutora em História Social, irá discorrer sobre A Composição de Vanguarda e o Violão, além, é claro, de interpretar peças musicais de Villa-Lobos e Marcos Alan.
No Foyer do Salão Leopoldo Miguez, a Editora Autografia, com vendas à credito, débito e desconto para quem adquirir o CD de Marcos Alan, promove o lançamento da obra que tem por título Villa-Lobos e Marcos Alan dos Reis José: o discurso musical para o violão de concerto no Brasil.
A obra, que registra um estudo comparativo entre a poética musical de Villa-Lobos e a de Marcos Alan, é parte do resultado da tese de doutorado de Graça Alan, irmã deste compositor que era um brilhante intérprete de toda obra de Villa-Lobos. Para realização deste estudo, parte da pesquisa foi feita em Paris, graças à bolsa PDSE, obtida pela autora, a partir da Relatoria de Anita Leocádia Prestes no processo que tratou do assunto.
Fundamentada em reflexões teóricas de eminentes autores de História Comparada, a tese foi desenvolvida com a metodologia de Jean Jaques Nattiez, com o objetivo de verificar de que forma Villa-Lobos e Marcos Alan desenvolveram as respectivas escritas musicais e em quais momentos elas se assemelham e em quais se diferenciam.
Tendo como orientador acadêmico o historiador e músico José D'Assunção, a autora da tese, defendida no Instituto de História da UFRJ, recorreu ainda ao amparo da Teoria da Representação Social, de Serge Moscovici, para que pudesse demonstrar em que e como os dois compositores, na condição de atores sociais foram influenciados pelo caldo cultural do tempo cronológico vivido por cada um deles.
Dos registros que constam na obra é importante destacar que, mesmo não suplantando a necessidade de discentes e profissionais conhecerem e estudarem as obras dos grandes mestres do Barroco transcritas para violão, Marcos Alan rompeu com o padrão da melodia acompanhada. Em suas obras existe o contraponto e a fuga, assim como em algumas delas consta a scordatura durante a execução da obra.
E mais: ele usou o serialismo integral em composições, quando este tipo de escrita musical principiava a ser divulgado no Brasil e foi um dos pioneiros a usar os recursos percursivos no violão.
No concerto, que tem início às 18h30, serão apresentadas obras de Villa-Lobos e o resultado do trabalho de composição de Marcos Alan, no período compreendido entre 1969 e início de 1973, quando ele, já hospitalizado, terminou uma das peças musicais.
E graças a recursos tecnológicos, o público poderá ouvir a interpretação que Marcos Alan deu ao 3º Movimento do Concerto para Violão e Pequena Orquestra , de Heitor Villa-Lobos, e à sua própria obra denominada Fughetta.
O violonista e Chefe do Departamento de Arco e Cordas Dedilhadas da Escola de Música, Bartolomeu Wiese; a concertista e professora do Centro de Letras e Artes/Música da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro- UNIRIO-, Maria Haro, em estréias mundiais, estarão apresentando as seguintes obras de Marcos Alan: Três Prelúdios Curtos; Pequena Suite Barroca, Estudo, Prelúdio e Ária.
Graça Alan, Teresinha Prada e Caio Treistman, em violão solo, vão estar executando obras de Villa- Lobos e Marcos Alan. O Duo Sergio Ribeiro & João Wilson interpretarão A Lenda do Caboclo, de Villa-Lobos e Sonatina nº 1 de Marcos Alan.
O professor da Escola de Música, Alexandre Rachid, no órgão Tamborini, interpretará a Sonata nº 1 para Órgão, de Marcos Alan.
As declamações dos poemas que fazem parte do concerto foram entregues à sensibilidade do médico Leopoldo Valente e das sobrinhas de Marcos Alan, Lívia e Laila, que já fizeram parte do Coro Brasil Ensemble da Escola de Música da UFRJ.
Escrito por Meri Toledo Fraga
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