Surgiu como dança em 1875, no Rio de Janeiro e só tempos depois viraria um ritmo. Acredita-se que o maxixe teria surgido com a decadência da polca nos salões com a chegada dos choros – e foi misturado a ele com base de flauta, violão e oficlide. Assim, a polca sendo transformada em maxixe, as pessoas dançavam lundu, enquanto outros cantavam e os conjuntos de choro acompanhavam. Esse fato o fez chegar rapidamente a todas as classes sociais do Rio de Janeiro.
A designação de "Maxixe" para a música e à dança surgida atestava o caráter popular ligado às classes mais baixas da sociedade carioca da época, uma vez que a palavra era usada para designar coisas de pouco valor.
Segundo uma versão de Villa-Lobos, o maxixe tomou esse nome de um indivíduo apelidado Maxixe que, num carnaval, na sociedade Estudantes de Heidelberg, dançou um lundu de uma maneira nova. Foi imitado e toda gente começou a dançar como o Maxixe.
Jota Efegê no seu maravilhoso livro Maxixe - a dança excomungada, editado em 1974 não corrobora esta versão. Mas também não consegue explicar a origem do nome. Em suas exaustivas pesquisas ele encontrou uma variedade grande de explicações que dão à origem do maxixe, até hoje, um certo ar de mistério.
A primeira apresentação de maxixe nos teatros cariocas ocorreu em 1883, quando o ator Francisco Correia Vasques apresentou o espetáculo "Aí, Caradura!", cuja maior atração eram os trechos cantados e dançados de maxixes. No final do século XIX começaram a aparecer as primeiras partituras com maxixes, as casas editoras (que editavam e publicavam as partituras) o reconheceram como gênero musical específico, e alguns compositores se destacaram na composição de maxixes, como Eduardo Souto, Sinhô, Sebastião Cirino, Romeu Silva, J. Bicudo e eventualmente, Chiquinha Gonzaga.
A primeira composição gravada como maxixe foi "Sempre contigo", lançada pela Banda da Casa Edson por volta de 1902, sendo de autor não registrado. Em 1904, fez sucesso o "Maxixe aristocrático", do maestro José Nunes, apresentado na revista "Cá e Lá", pela dupla Pepa Delgado e Marzullo. Enquanto dança, o maxixe era dançado com passos ousados e sensuais recebendo esses passos nomes como carrapeta, balão, parafuso, corta-capim ou saca-rolha.
A entrada do maxixe nos salões elegantes das principais capitais brasileiras foi terminantemente proibida até que, em 1914, Nair de Tefé, primeira dama do país, esposa do então presidente Hermes da Fonseca, iria escolher um maxixe, o "Gaúcho" ou "Corta-jaca", de Chiquinha Gonzaga, para ser executado ao violão, nos jardins do Palácio do Catete, para escândalo de todo o país. Em 1914 fez sucesso o maxixe "São Paulo futuro", de Marcelo Tupinambá e Dalton Vampré, gravado por Bahiano. Depois disso muitos maxixes surgiram para causar devaneios e rebuliços nos salões brasileiros.
A Noite do Corta Jaca
Um episódio bastante polêmico envolvendo o maxixe ficou conhecido como A Noite do Corta Jaca, envolvendo uma primeira-dama brasileira: Nair de Teffé, segunda esposa do Presidente da República, o Marechal Hermes da Fonseca, que governou o Brasil entre 1910 e 1914.
Nair de Teffé Von Hoonholtz (1886-1981), tinha seus 27 anos quando casou-se com o Marechal sexagenário. Dona de educação requintada, chegou a estudar em Paris, Marselha e Nice. Dentre seus dotes era excelente caricaturista (foi considerada a primeira mulher caricaturista do mundo - Publicou seu primeiro trabalho, A Artista Rejane, na revista "Fon-Fon", sob o pseudônimo de Rian [Nair de trás para frente]. Também publicaram suas caricaturas da elite, dentre outros, os periódicos O Binóculo, A Careta, O Ken, bem como os jornais Gazeta de Notícias e Gazeta de Petrópolis. Suas caricaturas saíram em revistas francesas como a Fantasie, Femina, Excelsior e Le Rire e ainda sabia tocar piano - o que era um avanço para a época.
Não por isso, a jovem primeira-dama começou a escandalizar mais a conservadora sociedade carioca quando passou a oferecer sarau nos salões do Palácio do Catete, dando oportunidade ao músico Catulo da Paixão Cearense de introduzir o violão, instrumento, até então, renegado nos salões da elite brasileira.
Apaixonada pela música popular se intrigou com um comentário de Catulo que dizia que nas recepções oficiais só se tocava música estrangeira. Assim, em 26 de outubro de 1914, aproveitando as solenidades de despedida da gestão do marido, abriu espaço, em um jantar oficial, para a música brasileira com direito a desempenho pessoal, e acompanhada de seu amigo Catulo, tocaram o maxixe "Corta-Jaca", escrito por Chiquinha Gonzaga e Machado Careca de 1895 – Chiquinha, aliás, era pessoa por quem a primeira dama nutria uma grande admiração.
A ocasião ficaria registrada na história, saindo notas de referência ao escândalo nos jornais cariocas, e passaria a ser conhecida como "A Noite do Corta-Jaca". Anos depois, Rian (Nair ao contrário) - pseudônimo utilizado pela polêmica Primeira-dama - declararia que a festa foi um sucesso e definiu o evento com o termo "Noite prafrentex" e que havia desafiado a sociedade que valorizava o erudito em favor do ritmo popular brasileiro.
Um fato que merece ser mencionado, é que a Europa já conhecia o maxixe, sobretudo a França, onde artistas brasileiros como o dançarino Duque, difundiu a dança de ritmo sensual que acabou incomodando até a alta cúpula da Igreja Católica que o considerava, em conjunto com o tango argentino, ofensivo à moral e, portanto, proibida a cristãos.
Daquele tempo são hilárias as quadrinhas popularizadas pelo espírito gozador do Carioca.
Se o santo Padre soubesse
O gosto que o tango tem,
Viria do Vaticano
Dançar o maxixe também.
O atrevimento da Primeira-Dama e os defensores do ritmo excomungado, gerou muitas críticas nos jornais e muros pichados com caricaturas de "Dudu da Urucubaca" - apelido conferido ao presidente, por ser considerado azarado e vítima de várias crises no seu governo, como a Revolta da Chibata. Mais quadrinhas surgiam aos montes satirizando e ridicularizando o velho presidente:
O Duduzinho
Da Urucubaca
É o homenzinho
Do Corta-jaca
Mulata de perna grossa
Cavaca no chão, cavaca
Quero ver para quantos vales
No jogo do Corta-jaca
Não uso arma nenhuma,
Nem bacamarte, nem faca!
Uso apenas o meu "pinho"
Pra tocar o "Corta-jaca"!...
Na quitanda tem legumes
No açougue carne de vaca
Na padaria tem roscas
No Catete "Corta-Jaca".
Até Rui Barbosa, senador da República por aqueles tempos, figura assídua nos cinemas para ouvir recitais de Ernesto Nazareth, indignou-se e proferiu um discurso inflamado, quase violento, no Senado Federal:
"[...] Uma das folhas de ontem estampou em fac-símile o programa da recepção presidencial em que diante do corpo diplomático, da mais fina sociedade do Rio de Janeiro, aqueles que deviam dar ao país o exemplo das maneiras mais distintas e dos costumes mais reservados elevaram o Corta-Jaca à altura de uma instituição social. Mas o Corta-Jaca de que eu ouvira falar há muito tempo, que vem a ser ele, Sr. Presidente? A mais baixa, a mais chula, a mais grosseira de todas as danças selvagens, a irmã gêmea do batuque, do cateretê e do samba. Mas nas recepções presidenciais o Corta-Jaca é executado com todas as honras da música de Wagner, e não se quer que a consciência deste país se revolte, que as nossas faces se enrubesçam e que a mocidade se ria?"
Sabidamente o que Rui Barbosa buscava no seu discurso preconceituoso, era desgastar, ainda mais, a imagem do presidente Hermes, que era seu opositor político e que o derrotara na última eleição presidencial, em um pleito cheio de fraudes e denúncias. Nair se vingaria publicando uma caricatura ridicularizando o nosso Águia de Haia, que foi retrucada por um Rui Barbosa irritado: "Certas mocinhas se divertem fazendo gracejos à custa de homens sérios como eu."