1870 – (período posterior à Guerra do Paraguai)
Em 19 de março, na Itália, estréia no lendário Teatro Scala
de Milão, a obra máxima do maestro-compositor brasileiro paulista Carlos Gomes
(1836-1896) – a ópera O Guarani –, baseado na romance de José de Alencar, com
libreto inicial do poeta Antonio Scalvini, concluído por Carlo d'Orneville. O
sucesso e impacto de O Guarani levou o compositor e maestro Giuseppi Verdi ao
comentário entusiasmado de que Carlos Gomes era de fato um "vero genio
musicale". Depois de encenada 12 vezes no Scala, a ópera percorre toda a
Europa com grande sucesso. Com ela, pela primeira vez, nascia o Brasil para o
mundo musical . Em 2 de agosto, Carlos Gomes regressa ao Brasil como um
verdadeiro herói, e prepara sua ópera – já com a famosa protofonia, não
apresentada na Europa, e que se tornaria como um segundo hino nacional – no
Teatro Lírico Fluminense, no dia 2 de dezembro, em homenagem ao aniversário de
Dom Pedro II. Carlos Gomes foi, sem dúvida, o maior compositor das Américas no
século XIX.
Diretamente da então Cidade Nova
e dos lendários cabarés da Lapa, no Rio de Janeiro, nasce o maxixe – a primeira
dança de par e gênero musical modernos genuinamente brasileiros. Ele surge da
mistura do lundu com o tango argentino, a habanera cubana e a polca. O maxixe
foi considerado tão escandaloso e polêmico quanto o lundu há quase 100 anos
atrás pela extrema sensualidade de sua dança e pelo uso freqüente da gíria
carioca quando cantado. A complexidade de seus passos parafusos, quedas,
saca-rolha, balão, corta-capim, carrapeta (etc.), marcaria o fim do gênero
musical em meados do século seguinte. Detalhe: as quadrilhas se transformam em
exclusivas e pitorescas danças folclóricas de São João.
No Rio de Janeiro, acontece a
época áurea dos 'entrudos' (do latim introitus), uma herança genuinamente
portuguesa dos primeiros blocos de foliões de rua (formados pela população
migratória rural nordestina) que antecede e prenuncia o surgimento dos blocos
de carnaval, inicialmente conhecidos como cordões. Os arruaceiros entrudos não
são bem aceitos – pela nova sociedade carioca que se estabelece – pela
violência de suas manifestações, cujos participantes esguicham jatos d'água em
bisnagas, jogam baldes d'água, limões de cheiro e atiram farinha na cara dos
transeuntes como forma de diversão.
Surge o choro (chorinho), no Rio
de Janeiro, através de pequenos grupos instrumentais formados por modestos
funcionários dos Correios e Telégrafos, da Alfândega e da Estrada de Ferro
Central do Brasil, que se reúnem nos subúrbios cariocas com suas flautas,
cavaquinhos e violões. A mágoa e a nostalgia deram o nome ao gênero, sendo a
improvisação sua condição básica. No começo da República, outros instrumentos
seriam incorporados. As festas das quais os chorões participavam já eram
chamadas de pagodes. Os músicos Joaquim Antônio da Silva Calado (1848-1880) e o
flautista Viriato Figueira da Silva (1851-1883) são dois de seus criadores.
Outros grandes chorões: Chiquinha Gonzaga (1847-1935), Anacleto de Medeiros
(1866-1907), Irineu Batina (1890-1916), Mário Cavaquinho (XIX-XX), Sátiro
Bilhar (?-1927), Candinho Trombone (1879-1960), Ernesto Nazaré (1863-1934) e
Pixinguinha (1897-1973). Esta é também a época das serenatas de fins de noite.
Antecedendo o surgimento
das orquestras, é a época do apogeu das bandas e fanfarras da República Velha
como a Banda do Corpo Policial da Província do Rio de Janeiro, a Banda do Corpo
de Marinheiros, a Banda da Guarda Nacional, a Banda do Batalhão Municipal, a
popular e sempre simpática Banda do Corpo de Bombeiros (dirigida por Anacleto
de Medeiros [1866-1907]) e a Banda do Batalhão Municipal.
Surge o frevo em Recife,
Pernambuco. Um dos mais importantes gêneros musicais e danças do país. O frevo
nasce da polca-marcha e tem sua linha determinada pelo capitão José Lourenço da
Silva (Zuzinha), maestro ensaiador das bandas da brigada militar de Pernambuco.
Como dança de multidão, o ritmo é frenético e contagiante, de coreografia
individual improvisada e inspirada na capoeira, apoiada no uso de sombrinhas e
guarda-chuvas. Detalhe: no Rio de Janeiro, a população atingia a marca de
522.651 habitantes.
No Rio de Janeiro, por
solicitação dos crioulos integrantes do cordão Rosas de Ouro, a pioneira
compositora carioca de classe média Chiquinha Gonzaga (1847-1935) – a primeira
mulher a reger uma orquestra no Brasil (em 1885) –, compõe a primeira marcha
carnavalesca da história da música brasileira chamada "Ô Abre Alas",
um enorme sucesso e de grande influência na consolidação das bases iniciais da
música popular brasileira.
1875 – (Império: primeiro choque entre a maçonaria e a hierarquia católica pelo poder)
1880 – (criação da Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, no Rio)
1880 – (o país é tomado pela causa abolicionista)
1889 – (proclamação da República pelo marechal alagoano Manuel Deodoro da Fonseca, em 15 de novembro, no Rio de Janeiro)
1890 – (chega o anarquismo trazido por italianos)
1899 – (época da destruição de Canudos, de Antônio Conselheiro, na Bahia)
1900 – (era da presidência de Campos Salles)
Depois de um longo período de
recusa e hostilização por parte da elite brasileira, os rituais e –
principalmente – os ritmos do candomblé e umbanda são oficialmente aceitos como
parte integrante da cultura brasileira. Preservam-se as músicas, escalas
musicais, instrumentos como agogô, cuíca, atabaque, e suas ricas bases
polirítmicas.
1900 – (era da "política dos governadores")
O Brasil republicano continua
recebendo a primeira grande e importante leva de imigrantes europeus e
asiáticos como italianos, alemães, japoneses, libaneses, aumentando a
miscigenação e a influência musical desses povos em sua música.
Acontece a primeira gravação para um disco brasileiro, com o famoso tema lundu intitulado "Isto É Bom", escrito pelo músico baiano Xisto Bahia (1841-1894) e cantado por Baiano (Manuel Pedro dos Santos, 1870-1944), para a gravadora Casa Edison.
1902 – (café-com-leite: paulistas e mineiros se alternam no poder)
Acontece a primeira gravação para um disco brasileiro, com o famoso tema lundu intitulado "Isto É Bom", escrito pelo músico baiano Xisto Bahia (1841-1894) e cantado por Baiano (Manuel Pedro dos Santos, 1870-1944), para a gravadora Casa Edison.
1910-11 – ("revolta dos marinheiros", no Rio de Janeiro)
Respectivamente, são construídos
os dois dos mais importantes teatros no Brasil – o Teatro Municipal do Rio de
Janeiro, e o Teatro Municipal de São Paulo.
1913 – (violentos conflitos na divisa de Santa Catarina e Paraná)
Em São Paulo, registra-se uma
modalidade de samba tipicamente paulista –
herdeiro do batuque – chamado Samba-de-Pirapora, ou Samba-de-Campineiro,
principalmente em quatro importantes centros urbanos da capital como na Barra
Funda, Bela Vista (no Bexiga) – nas festas de Nossa Senhora de Achiropita, no
dia 15 de agosto, na Rua 13 de Maio –,
na baixada do Glicério e Bosque da Saúde. A cidade de Pirapora foi o
mais importante centro de encontro e difusão do samba paulista – nas festas de
Bom Jesus, no mês de agosto –, também conhecido como samba-de-bumbo, onde
reuniam-se numerosos músicos predominantemente negros vindos de Campinas,
Barueri, Tietê e cidades vizinhas. Diferente do Rio, em São Paulo, não se usava
o samba para os desfiles de carnaval dos cordões e ranchos, mas sim as
marchas-ranchos e o choro. Os paulistas somente aderem ao samba, no carnaval,
no fim dos anos 20.
1914 – (Primeira Guerra Mundial)
Em São Paulo, no dia 12 de março,
é fundado o Grupo Carnavalesco Barra Funda, precursor da Escola de Samba Camisa
Verde e Branco, que também ia regularmente aos encontros e festejos de
Pirapora, no interior do estado. O pioneiro grupo paulista tinha apenas doze
integrantes vestidos de camisas verdes, calças brancas e chapéus de palha –
tocavam um pandeiro e chocalhos de madeira com tampinhas de garrafas de
cerveja.
1914 – (início de uma época de revoltas brasileiras)
Durante a Primeira Grande Guerra,
e pela primeira vez em sua história, a música brasileira chama a atenção da
Europa com o estilo embrionário e provocativo do samba – o maxixe –, que se
torna um dos maiores sucessos de dança no velho continente até 1922.
1914 – Embora tenha surgido desde meados do século passado, é somente neste ano que as chamadas canções sertanejas se popularizam entre as classes média e alta, a partir da toada "Cabocla di Caxanga", de João Pernambuco (1883-1947) e Catulo da Paixão Cearense (1886-1946), dois dos maiores nomes na história do gênero. A partir de 1920, o termo é designado por compositores profissionais urbanos para identificar as estilizações de ritmos rurais que abrangiam modas, toadas, cateretês, chulas, batuques e emboladas. De acordo com os primeiros estudiosos do estilo, música sertaneja poderia também compreender o xaxado, o baião e toda manifestação musical das regiões Norte-Nordeste, produzida no sertão e longe da cultura das grandes cidades. O gênero ficaria fortemente associado ao estilo caipira das modas de viola. Dos pioneiros da música sertaneja de raiz, ou música caipira, destacam-se Tonico e Tinoco, Cascatinha & Inhana ("Índia"), Inezita Barroso, Pena Branca e Xavantinho, Alvarenga e Ranchinho, Matogrosso e Matias, Irmãs Galvão, os comediantes Jararaca e Ratinho, Cornélio Pires, Ariovaldo Pires, Raul Torres, Teixeirinha ("Churrasquinho de Mãe") e outros.
1914 – Embora tenha surgido desde meados do século passado, é somente neste ano que as chamadas canções sertanejas se popularizam entre as classes média e alta, a partir da toada "Cabocla di Caxanga", de João Pernambuco (1883-1947) e Catulo da Paixão Cearense (1886-1946), dois dos maiores nomes na história do gênero. A partir de 1920, o termo é designado por compositores profissionais urbanos para identificar as estilizações de ritmos rurais que abrangiam modas, toadas, cateretês, chulas, batuques e emboladas. De acordo com os primeiros estudiosos do estilo, música sertaneja poderia também compreender o xaxado, o baião e toda manifestação musical das regiões Norte-Nordeste, produzida no sertão e longe da cultura das grandes cidades. O gênero ficaria fortemente associado ao estilo caipira das modas de viola. Dos pioneiros da música sertaneja de raiz, ou música caipira, destacam-se Tonico e Tinoco, Cascatinha & Inhana ("Índia"), Inezita Barroso, Pena Branca e Xavantinho, Alvarenga e Ranchinho, Matogrosso e Matias, Irmãs Galvão, os comediantes Jararaca e Ratinho, Cornélio Pires, Ariovaldo Pires, Raul Torres, Teixeirinha ("Churrasquinho de Mãe") e outros.