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A Evolução da Música Brasileira - ( I )

1500 – (era do descobrimento do Brasil)

   
Em abril, chega a esquadra portuguesa de Pedro Alvares Cabral em missão colonizadora, na futura Bahia. Provavelmente os índios excedem 2 milhões de habitantes. As músicas das muitas tribos são executadas em solos e coros, acompanhados pela dança, bater das palmas, dos pés, flautas, apitos, cornetas, chocalhos, varetas e tambores.                  .         


1538 – (era da economia colonial e das capitanias hereditárias)


Chegam os primeiros grupos de escravos trazidos da África para trabalhar na lavoura de algodão, tabaco e cana-de-açucar. Até o final do período de tráfego de escravos, em 1850, eles serão 3 milhões e meio no Brasil, trazendo suas músicas, danças, idiomas, macumba e candomblé – criando a base primordial de uma nova etapa fundamental na história inicial da música brasileira.


1549 – (Tomé de Sousa é o primeiro governador geral do Brasil)


Chegam as primeiras missões de jesuítas portugueses no Brasil. Além do catolicismo e dos princípios básicos de uma nova forma de civilização, os padres passam a introduzir as noções elementares da música européia aos índios e a apresentar seus instrumentos musicais, num primeiro contato importante de fusão e influências na nascente história da música brasileira.


1600-1700 – (era do domínio e das invasões holandesas)


Apesar da maioria da população de índios brasileiros ter sido praticamente dizimada pelos colonizadores portugueses, bandeirantes e contendores europeus, a música indígena e seus instrumentos deixam fortes influências em toda formação básica da história da música brasileira que se desenvolve – além de incorporar os primeiros traços da música portuguesa e européia –, numa cultura de transição e assimilações permanentes.              


1630 – (a invasão holandesa em Pernambuco)


A cultura musical africana dos escravos negros é preservada e desenvolvida através dos Quilombos – colônias de refugiados que resistem bravamente no interior do Brasil –, sendo o de Palmares, no interior do Estado de Alagoas, historicamente o mais importante, que durou um século, após ser destruído em fevereiro de 1694, por tropas do bandeirante Domingos Jorge Velho, após sete anos de ataques ininterruptos. O grande líder do Quilombo de Palmares é Zumbi, morto no ano seguinte. Surgem as primeiras novas formas de uma música afro-brasileira, que desenvolveria o afoxé, jongo, lundu, maracatu, maxixe, samba e outros gêneros futuros.


1650-1700 – (era da abertura do mercado brasileiro aos ingleses pelos portugueses)


A colonização portuguesa introduz largamente outros instrumentos europeus sofisticados como a flauta, violão, cavaquinho, clarinete, violino, violoncelo, harpa, acordeon, piano, bateria, triângulo e pandeiro. A partir dos rituais religiosos das missões jesuítas nascem os primeiros cultos folclóricos populares dos habitantes locais como o 'reisado' e o 'bumba-meu-boi'. A música sacra, as melancólicas baladas e as modas portuguesas contribuem para a formação da música brasileira.


1700 – (era das primeiras descobertas de ouro em Minas Gerais)


Em meados do século XVIII, surgem, no Rio de Janeiro e Bahia, as lendárias e divertidas músicas de barbeiros . São pequenos grupos musicais compostos de escravos negros barbeiros com tempo disponível para se dedicarem ao aprendizado de velhos e desgastados instrumentos musicais que lhe são passados. Segundo estudiosos, essa seria a primeira verdadeira manifestação de uma música popular brasileira instrumental de entretenimento público. Essas pequenas orquestras ambulantes, também chamadas de 'charangas' ou 'ritmos de senzala', muito requisitadas para festividades e procissões como a do Domingo do Espírito Santo, tocavam flauta, cavaquinho, violas, rabeca, trompa, pistão, pandeiro, tamboril, machete, e interpretavam – muito à sua maneira livre – fandangos, dobrados, quadrilhas, lundus e polcas num repertório bem diverso. Da música desses deselegantes mas charmosos barbeiros descalços, nasceriam os 'ternos', as bandas de coreto, as militares e o choro. Elas existiriam até meados do século seguinte.


1750 – (o Tratado de Madri reconhece a presença luso-brasileira na ocupação dos novos territórios)


Surge até então o mais importante gênero musical – a modinha –, criado em Portugal, e responsável pelos aspectos melódicos e românticos na música brasileira, de grande influência até a Nova República, no início do século XIX. Detalhe: em 1755, Salvador tinha 37.543 habitantes.


1770 – (era do Rio de Janeiro como sede do governo geral)


A partir dessa década, com o avanço do processo de urbanização, intensifica-se a produção musical religiosa (lírica) na América Portuguesa, no Brasil, também importante para o futuro próximo da música popular, com vários autores nacionais como Inácio Parreiras Neves (1730-1791), Manoel Dias de Oliveira (1735-1813), José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita (1746-1805), Francisco Gomes da Rocha (1754-1808), André da Silva Gomes (1752-1844) e outros.


1780 – (portugueses e espanhóis disputam territórios)


Outra importante forma musical – consta do primeiro registro escrito de referência do lundu africano no Brasil – gênero musical trazido dos escravos bantos do Congo e Angola –, e que seria amplamente popularizado. O estilo de música é descrito como uma dança lasciva com suas umbigadas. É um dos elementos embrionários de formação do futuro samba. A partir do começo do século XIX, o lundu apresenta variantes como o miudinho, a tirana tipo espanholada, o fado batido e a chula. Seu apogeu  vai do começo de 1800 à 1920, sendo o músico popular Xisto Bahia (1841-1894) o mais importante compositor do gênero. Detalhe: no Rio de Janeiro, existem 43.400 habitantes.


1786 – (início dos preparativos da Inconfidência Mineira)


Registro do primeiro grande desfile de carnaval, no Estado da Guanabara, em comemoração ao casamento do Príncipe D. João (futuro D. João VI) com a Princesa Carlota Joaquina. Nos dias 2 e 4 de fevereiro, o tenente Antônio Francisco Soares prepara seis grandes carros alegóricos – Cavalhadas Sérias, Baco, Cavalhadas Jocosas, Mouros, Júpiter e Vulcano – todos ricamente desenhados e ornamentados com alguns deles soltando fogos e jorrando vinho aos milhares de presentes. Os carros são puxados por cavalos e burros, com muitos elementos de harmonia, comissão de frente, fantasias, alegorias e os embrionários  passistas. Mas, os desfiles de carnaval já eram conhecidos desde meados do século XVII.  


1831 – (I Reinado: em 7 de abril ocorre a abdicação de Dom Pedro I)


Os grandes proprietários latifundiários criam a Guarda Nacional, cujos músicos militares fardados passam a incluir em seus repertórios oficiais, além dos hinos-marchas e dobrados, trechos de música popular e de música clássica. Surgimento dos Coronéis do Sertão nordestino.  


1840 – (Regência: a Revolta dos Farrapos, do Rio Grande do Sul à Santa Catarina)


Primeiro baile de máscaras, no Rio de Janeiro, no dia 22 de janeiro, no baile do Hotel Itália, na posterior Praça Tiradentes, numa bem-sucedida tentativa da alta sociedade da época, de D. Pedro II, de importar o estilo do carnaval de salão de Veneza. 


1845 – (II Reinado: a Marinha Inglesa persegue navios negreiros)


No dia 3 de julho, é apresentada pela primeira vez a polca, no Teatro São Pedro, no Rio de Janeiro. Dança rústica da Boêmia – parte do império austro-húngaro e atual província da Checoslováquia –, a polca chega à capital Praga em 1837, e se transforma em dança de salão. Depois da apresentação brasileira, a polca vira a nova febre carioca com a formação da Sociedade Constante Polca, em 1846. Além de dança de salão, o gênero invade teatros e ruas, tornando-se popular através dos próximos grupos de choro e grupos carnavalescos. Os maiores compositores de polca são Ernesto Nazaré (1863-1934), Calado (1848-1880), Anacleto de Medeiros (1866-1907), Irineu de Almeida (1890-1916), Henrique Alves de Mesquita (1830-1906) e Miguel Emídio Pestana (fins do séc. XIX e inícios do séc. XX). Foi o gênero básico de apoio para outras fusões musicais com o lundu, o fadinho e os motivos militares.   


1859 – (era do fim do tráfico de escravos)


Surgem os primeiros bondes puxados à cavalo, no Rio de Janeiro, que passariam a integrar definitivamente as multifacetadas culturas populares e musicais dos diversos bairros e lugarejos da grande cidade, transformando a expressão musical local num enorme caldeirão de novos estilos e experimentos, principalmente com relação ao carnaval. Em 1892, surgem os primeiros bondes elétricos. Eles exercem uma forte influência de inspiração musical para compositores populares e o teatro de revista. Já totalmente suplantados pelo automóvel, que cresceria em importância como meio de transporte nos anos 30, os bondes desapareceriam em 1964, quando a cidade do Rio de Janeiro é toda pavimentada para as festividades de seu IV Centenário.   


1859 – (início do apogeu das fazendas de café)



Influenciado pelas revistas européias, surge, no Rio de Janeiro, os teatros de revista – gênero que mistura teatro com música e dança, e que aborda os principais fatos da época de forma crítica, humorística, despojada e irreverente. O primeiro espetáculo do gênero – 'As Supresas do Sr. José da Piedade', de autoria de Justino de Figueiredo Novais – estréia em 15 de janeiro de 1859, no Teatro Ginásio. Artur Azevedo (1855-1908) seria o maior nome do novo meio e responsável por dar ao gênero um estilo realmente brasileiro, consolidando-o já em 1880, quando se tornaria veículo importante de difusão da música popular nacional. Além da maestrina Chiquinha Gonzaga com o enorme sucesso de seu tango brasileiro "Gaúcho", outros grandes compositores maestros passaram pelo teatro de revista como Nicolino Milano, Paulino Sacramento, Antônio Sá Pereira, Sofonias Dornelas, Bento Moçurunga e outros. A partir de 1920, o gênero começaria a decair diante do rádio, dos cinemas-teatros e dos shows musicais propriamente ditos.


1870 – (lançado o Manifesto Republicano presidencialista, no Rio)



Data de registro do primeiro rancho carnavalesco surgido no bairro da Saúde, no Rio de Janeiro, de nome Dous de Ouro, formado por nordestinos, antigos escravos e filhos de escravos baianos. Pioneiros da época ainda relataram o Rancho da Sereia, formado por sergipanos e alagoanos, rivais dos baianos, como o rancho anterior ao Dous de Ouro. Os ranchos carnavalescos surgiram inspirados nas procissões folclóricas religiosas dos Ranchos dos Reis Nordestinos. Por volta de 1890, existem mais de dez ranchos carnavalescos cariocas. A partir de então, esboça-se os primeiros traços do samba através do batuque de origem africana.



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