1994 – (o ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso lança o Plano Real)
Surge o movimento mangue beat. É
lançado o primeiro disco de Chico Science & Nação Zumbi, 'Da Lama Ao Caos',
da banda mais inovadora e uma das mais representativas – e a mais popular – do
movimento de Recife (Pernambuco). O disco é um marco no cenário pop da década.
A mídia nacional se rende ao fenômeno. A partir de então, de olho na novidade,
praticamente boa parte da produção pop da música brasileira começa a introduzir
e a se apropriar dos tradicionais tambores de maracatu e do jeito peculiar
hip-hop abrasileirado de Chico Science cantar. Outro grande expoente do
movimento é o jovem músico pernambucano Fred Zero Quatro e sua banda Mundo
Livre S/A. Junto com Chico, Fred é o autor do manifesto "Caranguejo Com
Cérebro".
1994 – (a moeda muda de cruzeiro real para real)
Surge o fenômeno internacional da
world music. O Brasil mais uma vez dá a resposta, voltando-se para a riqueza de
sua música nacional, redescobrindo os diversos sotaques da chamada música
regional de seus estados, principalmente os do Norte-Nordeste (redescobrindo a
Banda de Pífanos de Caruaru). A música brasileira recupera a sua energia
criativa. Isso refortalece os grandes nomes da MPB e do samba que se
preservaram durante os anos 80 e viram ídolos de uma nova geração como Gilberto
Gil (em 94), Paulinho da Viola (em 95), Zeca Pagodinho (em 97), Caetano Veloso
e Djavan (em 99). Grande parte do repertório tradicional esquecido da música
popular brasileira se torna clássico, possibilitando inúmeros trabalhos de releituras
– os chamados songbooks, principalmente através do trabalho pioneiro do músico
e produtor carioca Almir Chediak com o seu selo Lumiar.
1994 – (Fernando Henrique Cardoso é eleito presidente da República)
Com uma repercussão internacional
simplesmente impressionante, no mês de dezembro, morre Antonio Carlos Jobim
(Tom Jobim), num hospital em NovaYork, aos 67 anos. Além de ser um dos
criadores da bossa nova, é considerado um dos maiores compositores do século ao
lado de Heitor Villa-Lobos, George Gershwin, Cole Porter e Irving Berlin. A
importância de sua obra musical é tamanha que, no mundo todo, não há um músico
de jazz sequer que não tenha em seu repertório alguns de seus temas, sob o
risco de não ser considerado de primeira linha. Tanto assim que, no começo de
95, o amigo e prestigiado saxofonista norte-americano de jazz Joe Henderson
lançou um álbum interpretando exclusivamente os maiores sucessos do maestro.
1995 – (surge o PPB (Partido Progressista Brasileiro), criado com a fusão do PPR (Partido Progressista Reformador)
Uma geração intermediária mais
jovem de cantoras de MPB vive o seu momento máximo de afirmação, como Marisa
Monte, Zizi Possi, Cássia Eller, Fernanda Abreu, Marina Lima, Leila Pinheiro,
Paula Toller, Zélia Duncan, Ná Ozzetti, Vânia Bastos, Mônica Salmaso e outras.
1996 – (começa a discussão das arrastadas reformas constitucionais)
O Brasil é oficialmente o sexto
maior mercado fonográfico em vendas do mundo. 80% do consumo de CDs e do que se
toca nas rádios é de música brasileira, invertendo o cenário predominante dos
anos 80, em que a música pop norte-americana com Madonna, Michael Jackson e
outros vendiam mais do que a música nacional.
1996 – (fim do monopólio do petróleo, telecomunicações e gás canalizado)
No cenário da música pop
brasileira atual, depois da morte de Cazuza, nenhum outro fato dessa natureza
chocaria tanto o país quanto a morte de Renato Russo, também pelos sintomas da
AIDS. Renato Manfredini Júnior nasceu no dia 27 de março de 1960 e adotou
artisticamente o sobrenome inspirado no filósofo francês Jean-Jacques Rousseau
(1712-1778). Renato foi o líder da banda Legião Urbana, o mais importante grupo
de rock dos anos 80. Muito intelectualizado e um dos mais brilhantes letristas
de sua geração, Renato ainda lançou alguns trabalhos solos como The Stonewall
Celebration Concert (1993), em inglês; Equilíbrio Distante (1995), em italiano,
e o CD póstumo O Último Solo, lançado em 1997.
1997 – (campanha para aprovação da emenda que permite reeleição de cargos executivos)
Afirma-se mais uma brilhante
geração intermediária de novos nomes na música popular brasileira, de
diferentes regiões e com algumas novas propostas de fusões da música Nordestina
e folclórica, com a do Sul-Sudeste e a do mundo pop internacional. Nomes como
Carlinhos Brown (BA), Arnaldo Antunes (SP), Chico César (PB), Zeca Baleiro
(MA), Lenine (PE), Rita Ribeiro (MA), Paulinho Moska (RJ), Pedro Luís e A
Parede (RJ), e outros.
1997 – (polêmica privatização da Companhia Vale do Rio Doce)
Morre Chico Science (PE), compositor
e cantor, o principal fundador do movimento mangue beat e um dos criadores do
manifesto "Caranguejos com Cérebro". Francisco de Assis França nasceu
em Recife, Pernambuco, no dia 13 de março de 1966. Quando menino, pescava
caranguejos no mangue para vender. Freqüentava bailes funk da região. Trabalhou
numa empresa de informática em Recife. Em 1991, formou a revolucionária banda
Chico Science & Nação Zumbi. Em 1994, lançou o primeiro CD do grupo Da Lama
Ao Caos. Em 1996, lançou o segundo disco da banda Afrociberdelia. Chico morreu
num acidente automobilístico. Sua morte também teve um impacto internacional,
sendo que ele e seu grupo estavam no melhor momento de uma bem-sucedida
carreira na Europa e Estados Unidos.
1997 – (propaganda da estabilidade econômica no país)
Depois de mais de 10 anos de um
movimento praticamente marginalizado pela mídia, o rap atinge firmemente
setores da classe média. Nesse movimento hip-hop (com o grafite e a
breakdance), destacam-se tanto artistas de classe média alta como Gabriel, O
Pensador, quanto grupos vindos das violentas periferias das grandes cidades
como Racionais MCs (SP) – o maior fenômeno do mercado independente com mais de
1 milhão de CDs vendidos –, Pavilhão 9 (SP), Faces do Subúrbio (PE), Planet
Hemp (Rio), Nocaute (RJ), Detentos do Rap (da penitenciária do Carandiru, em
São Paulo), Câmbio Negro (DF), Da Guedes (RS), Xis & Dentinho (SP), Marcelo
D2 (Planet Hemp) – com contundentes críticas sociais. Boa parte da MPB e da
música pop brasileira incorpora traços do rap em seus repertórios.
1997 – (campanha para atrair investimentos estrangeiros no país)
Quase no final da segunda metade
dos anos 90, presencia-se uma certa corrida à chamada música pop eletrônica em
alguns setores da música pop nacional, mas novamente mais como efeito de
arranjos musicais, uma vez que o gênero tecno não admite vocal. Destacamos
alguns nomes da chamada nova geração de produtores e performers de música
eletrônica brasileira como os Friendtronics, Xerxes, Mau Mau, M4J, Marky,
Tetine, X-Action, Lourenço Loop B, Ramilson Maia, Gismonti André, Fábio
Almeida, Camilo Rocha e outros. À exemplo do que ocorre nas grande capitais do
mundo há dez anos, o Brasil começa a viver o auge do culto aos DJs, que
produzem as grandes festas ao ar livre chamadas de 'raves', ou em casas
noturnas, e lançam CDs com remixagens e temas de suas preferências. A remixagem
(o remix) é uma das manifestações mais modernas do momento.
1998 – (Fernando Henrique Cardoso é reeleito presidente da República)
Ao recuperar-se de sérias
complicações de saúde com diabete, Milton Nascimento, merecidamente, ganha o
prestigiado Prêmio Grammy na categoria World Music por seu disco Nascimento
(WEA), em 25 de fevereiro.
1998 – (eleição de governadores, deputados estaduais e federais)
Depois de cinco anos de ausência
do cenário musical, e sem lançar músicas inéditas num único álbum, Chico
Buarque retorna com o lançamento do bem-recebido CD Cidades.
1998 – (grave crise financeira coloca o Real em cheque)
A música brasileira perde Tim
Maia, um dos criadores e mestre da soul music tipicamente brasileira e um dos
reis da nossa pop music. Gravemente hospitalizado desde o domingo do dia 8 de
Março, o cantor e compositor Tim Maia faleceria no outro domingo, dia 16 de
março, no Hospital Universitário Antônio Pedro, em Niterói, Rio de Janeiro, às
13h03. Sebastião Rodrigues Maia, o Tim, tinha apenas 55 anos, pesava 140
quilos. Alguns de seus maiores sucessos como "Não Quero Dinheiro (Só Quero
Amar)", "Gostava Tanto de Você" ou "Me Dê Motivo".
Tim, que lançou Roberto e Erasmo Carlos (a quem ensinou a tocar violão), e que
começou a fazer muito sucesso nos anos 70, caiu num certo esquecimento nos 80,
e começava a crescer novamente nos anos 90.
1998 – (privatização das companhias telefônicas)
Inesperadamente, o país é tomado
de assalto pelo estranho fenômeno dos padres carismáticos cantores. O padre
Marcelo Rossi lança o seu primeiro CD de canções e coreografias religiosas,
atingindo a impressionante marca dos 3 milhões de exemplares vendidos.
Aproveitando a oportunidade de mercado, outros padres viriam à reboque explorar
o novo filão populista.
1998 – (um terço do Senado é renovado) –
Caetano Veloso consegue uma
façanha jamais realizada em toda sua longa bem-sucedida mas, muitas vezes,
atribulada carreira. Grava a música "Sozinho", de Peninha, no CD ao
vivo Prenda Minha, e vende 1 milhão e meio de CDs e é o mais tocado nas rádios
de todo o país, de Maio a Julho.
1999 – (o Real é desvalorizado e o Brasil é tido como 'a bola da vez')
Gilberto Gil recebe o Grammy para
o Brasil, na cada vez mais importante categoria World Music, para o seu disco
ao vivo 'Quanta Gente Veio Ver', de 1998 (WEA), em inglês, 'Quanta Live'. Na
verdade, Gil estava torcendo mesmo para a sua amiga, a cantora caboverdiana
Cesária Évora. O Grammy é o Oscar da indústria fonográfica norte-americana, a
Academia de Artes e Ciências da Gravação dos EUA, transmitido por TV para 1,5
bilhão de pessoas, em 180 países.
1999 – (o país é tomado por escândalos de corrupção dos altos escalões executivos e aberturas de CPIs)
Através de David Byrne, seu selo Luaka Bop, e o músico pop
norte-americano Beck, os Estados Unidos interessam-se pela Tropicália através
da coletânea The Best of Os Mutantes – Everything is Possible, com grande
repercussão na imprensa internacional. Byrne afirma que a música brasileira
deve crescer nos Estados Unidos. A imprensa americana e inglesa dedicam
extensas matérias sobre um dos mais importantes movimentos musicais do Brasil,
ocorrido há mais de 30 anos atrás. Com isso, recobra-se também o interesse pelo
músico Arnaldo Dias Baptista – o mais importante dos Mutantes – com muitas
matérias a seu respeito e um CD intitulado 'Arnaldo Dias Baptista – Revisitado
Novamente', lançado pelo selo Dabliu.